Em tempos de crises múltiplas — climática, política e moral — é estarrecedor assistir, em plena luz do dia, a um espetáculo de desrespeito institucional que revela não apenas o desprezo pelo meio ambiente, mas também a misoginia arraigada nas estruturas de poder. A cena mais recente ocorreu no Senado Federal, onde a ministra Marina Silva, uma das maiores referências ambientais do planeta, foi alvo de ataques verbais travestidos de debate democrático. O que se viu, na verdade, foi a tentativa deliberada de desmoralizar uma mulher, uma ambientalista e, sobretudo, uma voz coerente num mar de ruídos autoritários.
Não se trata de um episódio isolado. O que está em jogo é o modelo de política que se quer perpetuar no Brasil: uma política suja, que não hesita em silenciar vozes femininas e progressistas para manter o controle sobre os recursos, os discursos e os rumos do país. Uma política que transforma o empreendedorismo em arma de devastação ambiental, que romantiza o agronegócio predatório e que escolhe, conscientemente, marginalizar a agenda socioambiental.
O que se busca, em essência, é uma ruptura: entre a direita e a esquerda, entre o desenvolvimento e a sustentabilidade, entre o respeito e a barbárie. E nessa cisão forçada, quem perde é o povo. Perde a política social, desacreditada e reduzida a slogans. Perde o meio ambiente, devastado em nome de um progresso que não inclui. Perde a mulher, constantemente colocada à prova, como se sua competência precisasse ser validada por estruturas que historicamente a excluem.
Marina Silva não é apenas uma ministra. Ela é símbolo. E quando o símbolo é atacado, não é apenas uma pessoa que se fere, mas toda uma causa. A causa da floresta viva, da justiça ambiental, da mulher que resiste e propõe, mesmo quando a política tenta calá-la.
O Senado, que deveria ser um espaço de equilíbrio, se apequena quando permite que o debate se transforme em violência simbólica. E é preciso dizer, com todas as letras: desrespeitar Marina Silva é desrespeitar o Brasil que pensa, que preserva, que sonha com um futuro mais justo.
Enquanto a política continuar a ser usada como trincheira de guerra e não como instrumento de construção coletiva, estaremos fadados à repetição dessa vergonha institucional. É hora de cobrar respeito — pelas mulheres, pelo meio ambiente e pela política que ainda acredita em ética, diálogo e transformação.

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