O mercado de carbono já movimenta bilhões de dólares em transações internacionais e começa a ganhar forma no Brasil com estrutura legal e metas obrigatórias. Para compreender esse universo, é preciso entender os conceitos fundamentais: o que são créditos de carbono, como são gerados, quem os valida, quais os tipos de mercado existentes e como atuar com segurança nesse novo cenário.
O que é o mercado de carbono?
O mercado de carbono é um sistema que permite a negociação de créditos vinculados à redução ou remoção de emissões de gases de efeito estufa (GEE). Ele se divide em duas grandes modalidades: o mercado regulado, com regras impostas por leis ou tratados, e o mercado voluntário, no qual empresas e organizações compensam suas emissões por iniciativa própria.
Nos dois casos, o objetivo é atribuir um valor econômico à poluição evitada, incentivando investimentos em projetos que reduzam o impacto ambiental global.
Como nascem os créditos de carbono?
Créditos de carbono são gerados por projetos que comprovam a redução ou remoção de emissões, com base em metodologias reconhecidas. Esses projetos passam por etapas como:
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elaboração técnica detalhada,
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validação da metodologia aplicada,
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auditoria por entidade independente,
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e registro em uma plataforma digital com rastreabilidade.
Cada crédito representa uma tonelada de CO₂ equivalente que deixou de ser emitida ou foi removida da atmosfera.
Quem compra créditos — e por quê?
No mercado regulado, a compra é obrigatória: empresas que excedem seus limites legais de emissões precisam adquirir créditos para se manterem em conformidade. No mercado voluntário, empresas e até eventos compensam suas emissões por metas de ESG, marketing climático ou antecipação a regulações.
Setores como energia, transporte, indústria pesada e tecnologia lideram a demanda global, mas a tendência é de diversificação, com consumidores e investidores pressionando por compromissos reais de descarbonização.
Quem valida e garante a integridade dos créditos?
A integridade de um crédito depende de três pilares:
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metodologia reconhecida,
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verificação independente,
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certificação por entidade autorizada.
Organizações como Verra, Gold Standard e Climate Action Reserve lideram esse ecossistema, exigindo auditorias rigorosas e monitoramento contínuo. Após aprovados, os créditos são registrados em sistemas que evitam a dupla contagem e asseguram a rastreabilidade.
Como funciona o mercado voluntário?
Neste modelo, empresas compram créditos por livre iniciativa. É um ambiente mais flexível, mas também mais sujeito a assimetrias de informação e riscos. Os preços variam conforme o tipo de projeto, a região, o padrão de certificação e o apelo ambiental/social dos co-benefícios.
A ausência de regulação exige atenção redobrada à origem dos créditos, à transparência das plataformas de negociação e à reputação dos projetos envolvidos.
Como funciona o mercado regulado no Brasil?
O Brasil regulamentou seu mercado de carbono em 2024 com a Lei 15.042, criando o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), baseado no modelo “cap and trade”.
Empresas com emissões entre 10 mil e 25 mil toneladas por ano devem compensar sua pegada. Acima disso, são obrigadas a apresentar inventário e plano de descarbonização.
O ativo negociado será o CRVE — Certificado de Redução ou Remoção Verificada de Emissões.
A fiscalização prevê sanções severas para descumprimento: de multas a bloqueios operacionais e reputacionais.
Quais são os riscos e fraudes mais comuns?
O mercado de carbono, especialmente no formato voluntário, é vulnerável a práticas como:
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Greenwashing: quando empresas alegam neutralidade sem base técnica real;
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Créditos fantasmas: créditos emitidos sem comprovação de impacto;
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Dupla contagem: quando o mesmo crédito é usado por mais de uma entidade.
Essas falhas minam a confiança do mercado e prejudicam sua efetividade climática.
Como participar com segurança?
Empresas e consultores devem atuar com responsabilidade técnica. Isso inclui:
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atuar com metodologias reconhecidas,
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evitar intermediários sem transparência,
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exigir relatórios de verificação e dados rastreáveis,
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e manter atualização constante sobre a regulação vigente.
Nesse mercado, credibilidade é o principal ativo.
Por que o carbono é considerado um ativo do futuro?
Carbono deixou de ser visto apenas como passivo ambiental e passou a integrar análises de risco, valuation de empresas, captação de recursos e decisões de investimento.
A precificação das emissões impulsiona inovação tecnológica, acelera a transição energética e redefine a competitividade empresarial.
Na nova economia, sustentabilidade e desempenho financeiro caminham juntos — e o carbono se posiciona como um ativo estratégico, ambiental e econômico.
Para aprofundar esses temas de forma visual e acessível, convido você a assistir à playlist "Decifrando o Mercado de Carbono" no meu canal no YouTube.
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