Vivemos um tempo de extremos.
De um lado, uma geração inteira que nasceu entre telas, scrolls infinitos e a ilusão de que informar é apenas compartilhar. Jovens jornalistas, produtores de conteúdo e leitores ávidos publicam, consomem e replicam notícias nas redes sociais com a mesma velocidade com que ignoram a profundidade do que está sendo dito.
Do outro, uma velha guarda — resiliente, experiente, muitas vezes desacreditada — resiste em redações cada vez mais enxutas, apegada à missão de informar com responsabilidade.
O que separa esses dois mundos vai além de uma questão geracional: é um abismo cavado por algoritmos que premiam o sensacionalismo, por métricas que valorizam curtidas — não a veracidade —, por plataformas que priorizam viralizações — não apurações. Como esperar que uma manchete de três palavras, empurrada por inteligência artificial, carregue o peso da verdade? Como confiar numa notícia lida em três segundos, sem fonte, contexto ou contraditório?
A imprensa — aquela com nome, rosto e história — ainda luta para ser ouvida. Mas gritar num mar de ruídos virou tarefa inglória. O novo leitor não quer mais ler; quer ver, quer clicar, quer julgar antes de compreender. E, quando lê, muitas vezes lê o que quer, não o que precisa.
O resultado é uma sociedade desinformada, onde a verdade virou opinião e a opinião virou verdade. Um ambiente em que números de engajamento valem mais que checagens — onde ser rápido importa mais que ser correto.
Esta é a era da desinformação premiada. O jornalismo autêntico não compete só com fake news, mas com a indiferença de quem já não tem paciência para a verdade.
É urgente reconstruir essa ponte: ensinar que jornalismo não é só manchete — é contexto, cuidado e coragem. Credibilidade não se compra; constrói-se. Enquanto confiarmos mais num gráfico de alcance do que numa fonte, empobreceremos nossa democracia — e nossa capacidade de entender o mundo.

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